Recentemente, lendo um dos meus blogs de escrita favoritos, o Helping Writers Become Authors, da K. M. Weiland, deparei-me com essa pergunta aí do título. Será que sua história precisa realmente daquele PDV extra que você inseriu?
Confesso que lidar com PDVs sempre me deixa apreensiva, pois é uma parte muito importante da estrutura da história, que não faz parte da estrutura propriamente dita. Quando planejo um livro novo, monto o desenrolar da trama (geralmente utilizo-me da narrativa em 3 atos), mas os PDVs só aparecem com clareza quando vou escrever (executar) o que foi planejado. E aí vêm algumas dificuldades – qual pessoa usar? Qual tipo de narrador utilizar? Quantos PDVs devem ser inseridos?
Antes de continuar, vou explicar o que é um PDV (ou POV, em inglês), para quem tem pouca familiaridade com a sigla. PDV é Ponto De Vista, ou seja, qual personagem está em foco na narrativa. Existem algumas variações de PDV e cada personagem possui o seu próprio.
Nos meus romances contemporâneos eu sempre escrevi na primeira pessoa, a maioria alternando o PDV entre os dois protagonistas – mocinha e mocinho. Em A Patricinha e o Milionário a alternância de PDVs é frequente, e o livro é bem distribuído entre Alexei e Giovanna. Em Paixão em Jogo vemos mais o PDV de Brenda, mas Liam costuma aparecer para contar a história sob a sua perspectiva.
Quando iniciei os romances de época, optei pela terceira pessoa – que realmente prefiro. Mas a narrativa em terceira pessoa pode ser limitada (pelo PDV de um personagem específico) ou ilimitada / onisciente, quando o narrador não conta a história da perspectiva de um personagem, como com um observador não inserido na trama. Porque escrevo romances, prefiro sempre a limitada pois ela aproxima o leitor dos sentimentos dos personagens.
Mas a grande questão é: independente da pessoa, se sua narrativa é limitada a um personagem, quantos PDVs devem ser incluídos? E, se PDVs de personagens secundários aparecerem, eles são realmente importantes para a trama ou apenas servirão para interromper o fluxo da narrativa e frustrar o leitor?
Em Paixão em Jogo, temos um capítulo que traz o PDV de Archibald, o antagonista mais fofo que existe. Esse PDV, a meu ver, foi essencial para narrar a descoberta de um segredo que vinha sendo mantido exclusivamente por esse personagem, não fazendo sentido que outro o narrasse. Ele não interrompe o fluxo mas o complementa, trazendo uma perspectiva que apenas Archibald poderia ter.
Já li histórias, no entanto, que repetem a mesma história por PDVs diferentes. Uma parte é narrada pela perspectiva do mocinho e, em seguida, vem a mesma parte sendo narrada pela perspectiva da mocinha. Esse tipo de artifício é um balde de água fria para mim, pois eu não quero ler de novo a mesma coisa, quero sequência, quero continuidade na história. Se a repetição de narrativas se prolongar, minha tendência é abandonar a leitura.
Outra questão levantada por Weiland em seu blog é a inserção do PDV de um personagem totalmente novo, que não fora previamente apresentado, lá pela metade do livro. Esse é um artifício que precisa ser usado com muita cautela, pois 1) deve-se considerar se é preciso realmente apresentar um personagem depois de 50% do livro e 2) deve-se considerar se o PDV desse personagem novo é tão importante assim que deva ser inserido no meio da narrativa.
Escrever um livro é mais do que apenas inspiração e transpiração, também é técnica e planejamento. Quanto mais nos atentamos para questões que inicialmente não percebemos, mais chances temos que evitar que o leitor se desaponte com nossa narrativa – e, com isso, perca interesse pela nossa história.
E vocês, já tiveram alguma frustração com PDVs que apareceram do nada, ou com repetição de narrativas por PDVs diferentes, em um mesmo livro? Se são autoras, como costumam estabelecer a relevância de um PDV dentro da narrativa? Contem para mim!
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