Como meu blog de escrita favorito é o The Write Practice mesmo, estive navegando por lá e encontrei um post com “segredos” para escrever histórias melhores. Claro que fui conferir, porque eu adoro 1) segredos e 2) histórias melhores. Quando terminei de ler, senti-me nocauteada em uma luta com o Anderson Silva em sua melhor forma, porque eu considerei que: 1) não estou fazendo tudo que deveria para escrever com aprimoramento e 2) aprimorar-se dá muito trabalho.
Mas aí podem me perguntar: por que tanta busca pela melhor técnica quando escrever é apenas uma arte? Ah, não é “apenas”. Sim, a escrita é arte, mas também é estudo, pesquisa, perseverança, técnica, estrutura. Os melhores livros que lemos geralmente não são aqueles que foram “vomitados” por seus autores e autoras, mas que passaram por um processo intenso de escrita e lapidação até chegar a nós.
Alguns dos segredos que me foram revelados eu já sabia – ou tinha uma noção de que eles eram parte do processo pela busca do graal. Vou colocá-los aqui para compartilhar com quem não lê inglês mas, se quiserem conferir o post original, só clicar aqui.
Segredo #1 – Escreva tudo de uma vez.
Quando li isso pensei: esse pessoal enlouqueceu. Como assim escrever um livro em uma sentada só?
Bem, o que disseram foi que devemos estruturar nosso primeiro rascunho o mais rapidamente possível. Não nos preocuparmos exageradamente com a qualidade da narrativa e o enredo, apenas cuidar de estruturar a história toda para depois cavar mais fundo em um segundo rascunho.
Sim, segundo. Ainda veremos que eles falam em pelo menos três.
Depois de refletir sobre esse segredo, entendi que isso ajuda naqueles momentos de inspiração imediata. Sentar e escrever tudo que vem à cabeça para ir do início ao fim da história de uma vez pode ser bem vantajoso para evitar bloqueios por falta de inspiração. Quando já sabemos o esqueleto da trama, basta preencher depois os espaços vazios.
Segredo #2 – Desenvolva seu protagonista.
Claro que protagonistas são a alma do livro. Sem eles ou elas, nossas histórias acabam perdendo força, já que o livro deve (deveria?) girar em torno de personagens principais.
O blog sugere que usemos personagens auxiliares, como o vilão, o antagonista ou o tolo (que é um personagem auxiliar para o/a protagonista) para ajudarmos a desenvolver o caráter de nossos protagonistas. Mas nunca devemos perder de vista que personagens principais devem ter como característica essencial a tomada de decisões – sejam elas boas ou ruins, sempre chegando a um ponto de crise e dando um jeito de sair da bagunça.
Eu já li algumas histórias em que os personagens auxiliares eram melhores do que os principais, como foi, para mim, o caso da saga Crepúsculo. Eu gostava mais da família Cullen do que de Edward e Bella – aliás, eu acho Bella quase insuportável. E sei que nos meus livros isso também acontece, ou seja, personagens principais nem sempre são meu forte – às vezes os auxiliares se saem melhor.
Vou levar essa dica para a vida.
Segredo #3 – Crie suspense e drama
Eu não sou a rainha do drama, mas eu a-do-ro um! Meus livros sempre têm eventos dramááááticos para os protagonistas porque sou cruel.
Mas o drama estabelecido como segredo de uma boa história não é aquele que vai fazer o leitor ou a leitora chorarem, é o que cria um suspense dramático – oh, céus, será que ela vai fazer aquilo? Será que eles vão ficar bem? Será que ele vai embora?
Para isso, é recomendando que escondamos algumas informações dos leitores e das leitoras. Contar demais atrapalha a criação de um suspense capaz de mantê-los intrigados e fisgados.
Segredo #4 – Mostre, não conte.
Quem ainda não ouviu isso? Ao invés de contarmos um acontecimento para o leitor, de forma em que ele se sinta um expectador não participante, é mais interessante mostrar o evento, fazê-lo acontecer na frente dele.
Conte algumas partes, mas faça com que as principais cenas simplesmente aconteçam para capturar os leitores e as leitoras.
Segredo #5 – Escreva bons diálogos
Segundo o blog, bons diálogos decorrem de um conhecimento profundo dos personagens e muita revisão. Afinal, cada personagem precisa ter uma voz única e não podemos escrever de forma que todos pareçam iguais. Quando relemos os diálogos de nossos personagens, temos sempre que perguntar se aquela fala parece pertencer àquele personagem específico.
Também recomendam que evitemos o “ela exclamou” ou “ele sussurrou”, por exemplo. Em um diálogo é recomendado apenas o “ela disse” ou “ele disse”. Caso seja uma questão, “ele perguntou” ou “ela perguntou”. Claro que o blog é americano e eles focam na construção da língua inglesa, mas podemos aprender com a simplicidade das construções deles para evitar que nossos textos fiquem prolixos. Eu, como tendo a escrever demais, geralmente possuo expressões desnecessárias que podem ser cortadas ou substituídas. Adorei essa dica.
Segredo #6 – Escreva sobre a morte
Autoexplicativo, não? Mate personagens, melhor ainda se forem principais.
Segredo #7 – Edite como um profissional
Aqui chegou uma parte que me assustou, porque eu nunca fui muito de editar. O blog afirma que autores e autoras costumam ter três rascunhos de suas histórias – 1) o rascunho “vomitado”, em que tudo sai sem muito planejamento, 2) o rascunho da estrutura em que o enredo é organizado e 3) o rascunho do polimento, que vem a ser a versão final do texto.
Eu nunca fiz dessa forma. No meu livro mais recente, tenho exatamente três rascunhos e estou na versão do polimento, porém eu não escrevi o primeiro e o segundo da forma como eu esperava – há pontas soltas demais e portanto eu ainda não deveria estar no terceiro.
Provavelmente, então, estou perdendo meu tempo. Mas vou seguir à risca essa dica da próxima vez e tomar notas da experiência.
Segredo #8 – Conheça as regras, depois quebre-as.
Bons escritores conhecem e seguem as regras. Grande escritores conhecem as regras e as quebram. Mas essa ruptura não é aleatória, ela se justifica porque grandes histórias requerem um novo conjunto de regras. Esse é um segredo que não deve ser considerado inofensivo.
Segredo #9 – Vença o bloqueio
Escrever é a melhor forma de superar bloqueios. Mesmo que sua escrita esteja uma porcaria, escreva assim mesmo. Por vezes, deixar a pressão de lado e apenas escrever é o que conduz às melhores histórias.
Posso afirmar que isso aconteceu comigo em O CEO e a Patricinha e Jogos de Adultos. Eu escrevi as duas para me desestressar de outras pressões e elas me serviram como válvula de escape. Hoje, são meus livros mais lidos.
Segredo #10 – Compartilhe seu trabalho
Não escreva no escuro. Compartilhar nos expõe à crítica e às falhas, mas ainda assim nos faz enfrentar os problemas que nossas histórias possam ter – e nos força a escrever o melhor que podemos.
O blog recomenda participar de concursos de escrita. Eu recomendo o Wattpad. Tive grande ajuda na plataforma – uma leitora me chamou no privado e me sugeriu mudanças estruturais em Jogos de Adultos. Compreendi a dica e tentei segui-la, o que levou a um acréscimo de 26 cenas na história. Se eu não tivesse compartilhado a história antes e aceitado a crítica da leitora, tenho certeza que eu teria em mãos um livro com grandes falhas estruturais que foram percebidas apenas quando outra pessoa as identificou.
Os dez segredos eram esses. Adorei a jornada por mais esse post do The Write Practice e recomendo que visitem sempre o blog, caso tenham fluência na língua inglesa – vale bastante a pena.
Foto de Clem Onojeghuo na Unsplash