Por vezes, quando comecei a me aventurar na escrita, ainda muito jovem, acreditei que escrevia para atender às minhas leitoras. Para dar a elas um momento de relaxamento, de prazer. Escrevo, sempre escrevi, literatura de entretenimento, e acreditava que meu objetivo era proporcionar às minhas leitoras exatamente aquilo que procuravam – diversão.
Eu estava certa ao pensar assim. Mas também errada.
Um livro não é só um livro. Não é algo que deva ser considerado como apenas uma narrativa lúdica cuja única função é dar prazer imediato. Um livro é arte, e toda arte é forma de expressão. Um livro é uma ferramenta que o autor possui para atingir pessoas.
Faz algum tempo que participei de um debate sobre o papel de J. K. Rowling como ativista e militante, e as diversas incoerências entre seus discursos quanto à inclusão e representatividade em suas obras. Dentre todas as divergências que surgiram, alguns pontos incontroversos, sendo que agora destaco um deles: a obra de Rowling influenciou toda uma geração de jovens que pontualmente afirmam que Harry Potter mudou suas vidas.
Quanto podemos aprender sobre culturas, sobre história, sobre aquilo que não conhecemos, em um livro “qualquer”? Quanto podemos nos enxergar em um personagem, quanto podemos enxergar nossas atitudes em um evento ocorrido dentro de uma obra de ficção? E o quanto essa obra pode nos ajudar a nos fortalecermos como indivíduos? Durante nossa formação como pessoa, ouvimos muitas vozes e todas elas participam, de alguma forma, na construção do nosso eu. Um livro é, pode ser, deve ser, a voz de seu autor.
O que você quer dizer ao seu leitor e à sua leitora?
Eu encaro meus livros como uma forma de passar uma mensagem – e é esse o meu real objetivo com eles. Eles são a materialização daquilo que eu quero falar às pessoas. São uma pequena, singela e sutil contribuição para a construção de indivíduos melhores. São uma voz que eu não posso e não quero calar. Meus livros são maiores do que eu. Não se trata de ambição ou arrogância, mas de admitir o papel relevante que uma obra literária tem no mundo.
Então pense, escritor ou escritora, qual é o legado que seu livro quer deixar?
Foto de Jessica Fadel na Unsplash